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Qual o mais importante? EPI ou EPC?

O noticiário não tem ajudado muito…

Sempre que assistimos a uma reportagem sobre acidentes, com um ou mais trabalhadores, seja no início, seja ao final da cobertura jornalística o repórter brinda o telespectador com a seguinte afirmativa: “segundo testemunhas o trabalhador não fazia uso dos EPIs obrigatórios”. É só observar o noticiário. O único dado que muda é se o trabalhador, por ocasião, estava vestido com os Equipamentos de Proteção Individuais e felizmente saiu com vida da situação indesejada. Mas será mesmo que essa informação é útil? O que ela pode nos dizer de importante, além da mensagem principal de que os acidentes estão ficando ainda mais corriqueiros no Brasil?

Inversão de valores

É o jornalista o culpado pela transmissão de uma mensagem equivocada ao público? Não, porém o conteúdo da informação reflete uma questão intrinsecamente errônea e indica a necessidade de uma mudança de paradigma em relação a segurança do trabalho no nosso país. As pessoas em geral propagam a concepção de responsabilidade da segurança ao indivíduo somente, e esquecem, ou mesmo fazem ideia de que o tema segurança do trabalho deve atingir a coletividade prioritariamente, correspondendo em primeiro nível ao conjunto de medidas de proteção que possam atender um grupo de pessoas em atividade de risco. Quando ouvimos falar continuamente que os Equipamentos Individuais não foram efetivos ou não estavam presentes no momento do incidente ou acidente, desconsideramos que a segurança parte de um aspecto mais amplo e efetivo que o simples EPI. Essas mensagens veiculadas na mídia indicam que ou o trabalhador usa seu equipamento pessoal e se protege ou está vulnerável e morre. Ponto final. A segurança e saúde do trabalho é um tema muito maior que somente uma manchete, tanto em complexidade técnica como em profundidade por abranger a vida das pessoas envolvidas. Hoje mais do que nunca é preciso haver cuidado para não lançarmos o assunto para o espectro da banalidade.

E o que é Equipamento de Proteção?

No Brasil, consideramos como equipamento de proteção todo aquele elemento que pode, na existência de um perigo à saúde ou a vida do trabalhador, reduzir os riscos envolvidos ou evitar acidentes mais graves e até mesmo a morte. Para muitas funções o exercício de atividades e tarefas ocupacionais oferecem condições que podem levar a ocorrência de acidentes, sejam eles simples, graves ou fatais e a redução da expectativa de vida. Nessas condições, quando a atividade precisa obrigatoriamente ser desenvolvida, e, a empresa não consegue eliminar por completo os riscos e perigos inerentes ao processo, é necessário que sejam tomadas medidas técnicas que possibilitem a realização do trabalho em segurança. É nesse ponto que entram os equipamentos de proteção, porém quando chegamos nessa etapa duas questões imediatamente se apresentam: Qual será o equipamento adotado para a proteção do trabalhador? Qual o mais importante?

EPI ou EPC?

Técnica e preventivamente, o Equipamento de Proteção Coletiva é o prioritário. Ele deverá ser adotado sempre que houver risco que possa afetar um grupo de pessoas, mesmo quando estas não estejam afetadas diretamente pela atividade ou tarefa em desenvolvimento, como é o caso do trabalho em altura ou com eletricidade. A adoção de equipamentos como o guarda corpo, redes de proteção ou o sistema de lock-out/tag-out em áreas energizadas possibilita que não só o trabalhador em ação esteja protegido, mas seus auxiliares, encarregados e outros colaboradores nas proximidades do perigo em questão. Um processo a ser adotado para avaliar as condições adequadas de utilização de equipamentos coletivos ou individuais é a análise de riscos. Prevista em diversas normas regulamentadoras e porta de entrada para a verificação dos diversos fatores envolvidos nas atividades de risco, a técnica aplicada com atenção auxilia a tomada de decisões, indicando as melhores alternativas para a redução dos problemas em seu menor nível.

Mas afinal, quem é o mais importante?

Ambos são importantes e ambos são vitais para que a atividade possa ser desempenhada em conformidade com as normas técnicas e consequentemente protejam o trabalhador de possíveis acidentes. Nem o equipamento coletivo nem o individual devem ser completamente desconsiderados, justamente pois existem situações em que eles serão complementares e somente utilizados em conjunto poderão oferecer efetiva proteção. Um dos exemplos é o uso de linhas de vida. O sistema apresenta características que o qualificam para serem considerados sistemas coletivos de proteção em altura, porém, se não utilizadas simultaneamente com os equipamentos individuais adequados, como os cintos de segurança e talabartes, o conjunto não oferece qualquer impedimento contra quedas. Quando observamos situações em que o ambiente oferece o contato constante com poeiras e ruídos, mesmo que adotados sistemas de exaustão e confinamento, muito provavelmente serão necessárias medidas individuais como máscaras, respiradores e protetores auriculares que complementarão a condição de proteção esperada para o profissional em condição de exposição.

É crucial para desenvolvermos um ambiente seguro estimular uma nova forma de comunicar o que é o segurança do trabalho. Tomando por exemplo o setor aéreo, onde cada acidente impacta drasticamente um número significativo de pessoas e de modo algum são minimizados os papéis de cada responsável pelo desastre, não podemos reduzir os acidentes e mortes de trabalhadores ao simples uso do Equipamento de Individual de Proteção. Fundamental é reconhecer que toda a forma de trabalho pode oferecer riscos e que estes precisam ser avaliados sempre, culminando em ações práticas para a proteção e o cuidado com a vida humana.

 

Por Thiago Araujo Mendes

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